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Brasil entre muros: o que virá depois do ódio?




O Ateliê de Psicanálise trabalha na atividade “ciCLO de estudos”, neste semestre, o tema: “mal-estar na civilização, diferença e violências” que está em consonância com a temática do livro de Christian Dunker (exposto adiante). As narrativas de sofrimento são colocadas à mesa para que conceitos de angústia e sintoma sejam elucidados através de Lacan e outros teóricos contemporâneos, inclusive, como o próprio Dunker. O objeto de estudo do ciCLO quer saber sobre o espaço contemporâneo e como vão suas relações. Refletir sobre o ódio também é proposta. Por que o desejo de exterminar o outro? A análise pretende ser construída para que o Ateliê possa, assim como fez Dunker, chegar ao encontro na Mata ou algum lugar que seja, ao menos, tão coerente quanto para a psicanálise e seus devires.



Capa do livro de Christian Dunker (2015).

Psicanalista e professor livre-docente da Universidade de São Paulo (USP), Christian Dunker é conhecido pela sua originalidade no universo da arqueologia psicanalítica. Seu novo livro, “Mal-estar, sofrimento e sintoma: uma psicopatologia do Brasil entre muros” demonstra para Vladimir Safatle a prova maior da vitalidade madura do pensamento psicanalítico brasileiro. Pois Dunker não têm medo de tocar mais fundo na ferida aberta brasileira contemporânea: o Brasil entre muros. O ódio social está estampado em discursos biopolíticos e podem ser basicamente entendidos pelo comentário raivoso anti PT na matéria do Sakamoto ou a incredulidade da senhora que não entende como a filha de sua empregada doméstica estuda na mesma faculdade que seu filho.


Dunker analisa em seu livro uma realidade brasileira governada por uma razão sistêmica tutelada por tecnoespecialistas: os síndicos. E a vida brasileira holisticamente entendida em uma lógica de condomínio – hiperindividualização da vida e encolhimento dos espaços públicos – onde tudo vira objeto de gestão totêmica.


Christian Dunker estuda o Brasil contemporâneo por meio da "lógica de condomínio". Hoje o país está marcado por uma zona de conforto cada vez mais estreita e um campo de combate cada vez mais amplo.


Nesta leitura social que é absurdamente contemporânea, Dunker resolve que é preciso falar sobre as nossas narrativas de sofrimento. Chegou o momento em que o condomínio começou a reduzir-se, admitir pessoas que não estavam previstas. O condomínio já não significa a segurança, a diferença, o prestígio. Então, os indivíduos se sentem perdidos, indeterminados. Sob o escopo da “lógica do condomínio”, ele busca justificar este novo comportamento brasileiro. Segundo Dunker, passamos da lógica da inveja que foi inserida pela condominialização da vida, para a lógica do ódio, causada pela impossibilidade que os indivíduos têm em compreender o novo cenário do Brasil atual.


O ódio vem das relações contratuais que não são cumpridas. “Coisas como democracia racial, homem cordial, o nosso sincretismo, o jeitinho brasileiro não estão funcionando mais. Nós demos um passo no sentido de nos tornarmos mais indivíduos, mas os indivíduos acreditam demais no contrato, nas relações institucionalizadas, fazem sua parte, mas não recebem em troca a compensação. Aí vem o ódio”, diz o psicanalista. O que se grita em conjunto neste Brasil apartado é escutado como “chega de corrupção”, “chega de violência”, mas ainda assim não produz fato político que nos direcione a uma ação. O caminho que se vislumbra diante do acontecido é o do não saber, o da angústia. Diante deste cenário, por onde Dunker pretende conduzir o leitor? Para a Selva, Sir.


Dunker quer inventar outras maneiras de sofrer com seu novo livro, ele quer lançar o antídoto para tanto ódio. Assim é que quando se está nadando no viscoso, você não tem muito mais do que a indeterminação. Se a indeterminação parece dar o tom para os dias atuais e futuros, o psicanalista não hesita em buscar nas teorias da brasilidade a chave para vencer o ódio, localizado como fonte do sofrimento na falta de experiências produtivas de determinação ou à falta de identidade do sujeito. Nesta teoria, nos encontramos na “mata” como os ameríndios se encontram: sem a certeza de quem é aquele outro. No entanto, o encontro é sempre importante por significar uma experiência única e reveladora: “Chega de busca do sucesso biopoliticamente administrado; contra isso, o pensamento ameríndio traz a possibilidade de uma reconstrução da teoria do reconhecimento que incorporará produtivamente as experiências de indeterminação – o encontro contigente na mata ameríndia”, diz José Luiz Prado na apresentação do livro.


"A graça do encontro na mata é que ele não se faz por uma lógica do nós e eles, que tem a ver com o ódio”, escreveu Daniel Benevides e Patrícia Rousseaux, autores da matéria sobre o livro de Dunker na Revista Brasileiros... Assim é possível pensar em mais alteridade no encontro na mata, e menos identidade. Menos violência e mais... Arte. Ela como potência de um sofrimento antídoto de ódio.

Violência:Curitiba, 29 de abril de 2015 - Autorizados pelo governador do Paraná, Beto Richa, Polícia Militar age com truculência no protesto de servidores públicos contra projeto de lei que coloca em risco suas aposentadorias. Abuso de poder marcou este massacre que segundo a direção do APP - sindicato mancha de uma forma deplorável a história do Estado.

Governo do Paraná comemora massacre aos manifestantes que protestavam contra o projeto de lei 252/2015. Beto Richa, governador do Estado, autorizou a tropa de choque a entrar em ofensiva contra os servidores públicos, a maioria professores. 150 pessoas saíram feridas. Praticamente, um estado de exceção no Paraná, não há diálogo mas há muita violência.


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