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o verão está para acabar e com a chegada da nova estação, iniciamos mais uma ciclo de leituras, seminários, encontros e outras atividades no ateliê de psicanálise e outras artes de ouro preto. como casa de correspondências, o ateliê se inscreve como lugar de receber e emitir palavras. e, como ateliê, há a aposta na produção, na invenção, na criação que é possível tecer um corpo ou um corpo que não cessa de tentar tecer e até ser. trazemos aqui, como fragmento disso, um vídeopoema e, abaixo, texto que o acompanha,
os dois, escritos por Munyke Romano:
O Corpateliê, o não dito. Não encontrado. Incompleto. Corpo estilhaçado em memórias, rejuntado por nós, linhas e contornos. Quem é o Corpateliê? O que é o Corpateliê? Quem é o corpo que cria sobre o corpo? Quem é o corpo que pensa sobre o corpo que reproduz o corpo na arte? Nesta representação do corpo em retalhos, fragmentos, é permitido ao corpo visitante também observa-lo em seus nós que se entremeiam para produzirem uma trama lacunar. Os espaços entre os nós permitem uma estrutura nunca maciça. O Corpateliê traz a ideia do espaço que se cria para que o todo se teça em um todo que nunca se COMPLETA como o manto de Penélope. Tecer o manto da falta, traz espaços entre nós. A arte do corpo poroso permite as trocas com o meio. Com o meio, recria-se. O branco da dor é tingido de vermelho. O Corpateliê é sempre tingido. (A)tingido, corpo/objeto da arte. Recriado ATRAVÉS de materiais que permitam trocas entre corpos, o espaço corporal em aberto é um espaço feminino. O Corpateliê é uma espaço feminino como configuração psíquica que se forma a partir de nós e retalhos, a falta, os espaços vazios, as lacunas. Tingir os retalhos, o corpo fragmentado que cria, como condição necessária, mas sempre insuficiente para que o processo artístico se instale, mas nunca se finalize. O corpo como produção intermitente de feminilidades, o impossível de ser dito/criado em sua completude, transveraliza a idéia de feminino como gênero, para além do biológico. Se para Lacan a prática da letra conduz ao inconsciente, o corpo que se escreve como feminino precede com sua obra, o acesso ao mesmo. O Corpateliê é sempre arte feminina, nunca completa, sempre lacunar. Produções suplementares. O Corpateliê quebra, estilhaça o sujeito cartesiano. CORPATELIÊ não todo, não tudo, falta o todo, tudo não falta. CRIAR COM O CORPO VISITANTE UM ATELIÊ LACUNAR. CIRCULAR ENTRE A FALTA. TECER O CENTRO.